quarta-feira, 4 de novembro de 2009






momen de militana do nascimento

Militana do Nascimento, a romanceira

Dona de memória privilegiada, capaz de recitar longos enredos do romanceiro nordestino que ouviu na infância, Militana Salustino do Nascimento nasceu em 1925, em Santo Antônio dos Barreiros, município de São Gonçalo do Amarante, RN.

De origem humilde, negra, sem escolaridade, aprendeu a cantar romances ibéricos e nacionais com o seu pai, Atanásio Salustino do Nascimento, quando trabalhava na roça. Sua memória guarda, por tradição oral, um considerável acervo, o que faz dela uma enciclopédia viva cultura popular. É a mais importante romanceira do Estado e uma das melhores do país.

Militana canta seus romanceiros numa cadência que lembra o cantochão, com ritmo baseado na acentuação e nas divisões do fraseado. Na maioria das vezes, as narrativas cantadas são histórias trágicas, como a do “Conte de Amarante”, em que a esposa chora a ausência do marido, enquanto dá ao filho “o leite da amargura” e se despede da vida. Outros romances, como “Nau catarineta”, trazem uma poesia de terras distantes, desconhecidas, lugares por onde Militana navega com a memória e a imaginação:

“Ainda avistamos três moças
Oh tão linda!
Debaixo de um laranjal
Uma lavando ouro pedra
Oh tão linda!
Outra lavando metal.”

A partir de 1995, a arte de Militana passou a ser mais conhecida no Brasil, graças aos Encontros de Cultura Popular do Rio Grande do Norte e ao lançamento do CD Romances e cantos de excelência, onde ela tem participação nos principais romances: os já citados “Conde de Amarante” e “Nau catarineta” e também “Dona Branca” e Rei Afonso”.

Aos 83 anos de idade, conservando intata a memória privilegiada, ela se apresentou em João Pessoa, Aracaju, no Teatro Brincante de São Paulo e no teatro do Museu da República, no Rio de Janeiro.

Estudiosos da cultura popular asseguram que o acervo de poesia dramática cantada por Militana é o maior do país.